MEIO AMBIENTE COMO SISTEMA


Os conceitos sobre meio ambiente podem ser melhor compreendidos quando consideramos o meio ambiente como um sistema. Para isto, é necessário, primeiro, estabelecermos o que é sistema.

O termo sistema é utilizado por todos, quase que intuitivamente, quando buscamos referir-nos às várias categorias de organizações ou grupos de elementos inter-relacionados, ou seja, sempre que pretendemos enfatizar inter-relacionamento, organização e interdependência, entre vários elementos que compõem um grupo ou conjunto avaliado.

A base conceitual de sistemas foi formulada inicialmente pro Bertalanffy, ainda na década de 30, para oferecer um conjunto de novas explicações e metodologias que pudessem dar conta dos problemas ligados à dinâmica dos sistemas vivos na natureza.

Segundo Bertalanffy, os motivos que o conduziram a desenvolver a Teoria Geral dos Sistemas estabeleceram-se a partir da observação da inadequação do postulado do reducionismo da física teórica (o princípio segundo o qual a biologia, as ciências sociais e do comportamento, deviam ser tratadas de acordo com o paradigma da física e, finalmente, reduzidas a conceitos de entidades do nível físico), para tratar os novos problemas específicos das outras ciências.

Sistema, então, segundo Kast e Rosenweig (1976), é um sistema composto de partes, ou elementos, inter-relacionados. Isso acontece com todos os sistemas mecânicos, biológicos e sociais. Todos os sistema têm, pelo menos, dois elementos em inter-relação. Num sistema, o todo não é apenas a soma das partes; o próprio sistema pode ser explicado apenas como totalidade.

As características de um sistema, de acordo com Bertalanffy , são as seguintes:
- um todo sinergético, maior que a soma de suas partes;
- um modelo de transformação;
- um conjunto de partes em constante interação, com ênfase na interdependência;
- uma permanente relação de interdependência com o ambiente externo, com capacidade de influenciar e ser influenciado, possuindo capacidade de crescimento, mudança e adaptação ao ambiente externo.

A capacidade de interação entre ambientes externo e interno, representa uma das principais características dos sistemas. Os sistemas podem ser fechados (quando não há troca com o meio externo) ou abertos, quando existem fluxos contínuos de energia, matéria e informação com o ambiente externo.

Os sistemas abertos são, portanto, sistemas que dependem do ambiente externo. Recebem elementos, os transformam mediante processos internos e devolvem novos elementos ao meio externo. Os sistemas abertos necessitam de entradas (ou inputs) para se manterem em funcionamento.

Relacionando as características apresentadas, pode-se perceber o Meio Ambiente como um sistema aberto, observando a constante interação e interdependência entre o ambiente externo e os ambientes internos ou subsistemas.

Essas bases conceituais sobre sistemas estão apoiadas, no entanto, sobre modelos teóricos que vêm se destacando ao longo dos últimos 50 anos. Neste sentido, as teorias sobre a complexidade, presentes em diversos campos da ciência, têm enriquecido o enfoque sistêmico para muito além do que Bertalanffy formulou inicialmente. Os sistemas complexos ampliaram e agregaram novos conhecimentos sobre processos irreversíveis, incertezas, caos, ordem e desordem etc. Então, o sistema é possível de ser definido. Uma definição adequada só pode surgir em cada caso particular, ou durante o transcurso da própria pesquisa/ investigação.

Abaixo são apresentados alguns dos elementos da Teoria dos Sistemas que permitem estabelecer uma postura sistêmica em análises práticas:

- As relações entre o todo e as partes: sabendo-se que um sistema compõe-se de partes, pode-se pensar em desmembrá-lo para analisá-lo em separado. Porém, deve-se lembrar que as partes só adquirem seu verdadeiro sentido quando integradas ao todo do sistema, estabelecido justamente pela inter-relação de suas partes. Esse princípio estabelece o caráter de interdependência entre as partes e o todo. A compreensão deste caráter ajuda-nos a observar que os problemas que afetam os sistemas naturais não podem ser interpretados sem a devida conexão com o que acontece nos sistemas sociais, econômicos, entre outros.

- Emergência e restrições do sistema: compreender qualquer conjunto como um sistema, pressupõe considerar que ele pode ser maior e menor que as partes que o constituem. Maior que as partes, por causa da emergência, ou seja, os resultados das interações das partes que permitem o estabelecimento de um produto novo, que não pode ser observado em separado na análise das partes. E menor que as partes quando o sistema impõe limites ou restrições às partes, que passam a não poder realizar plenamente suas potencialidades (como exemplo, o ditado popular, “A liberdade de cada um termina onde começa a liberdade do outro”). Neste caso, o sistema social, em sua totalidade, impõe limites a cada pessoa como parte ou componente dele mesmo, de forma que o indivíduo isolado nem sempre pode pôr em prática toda sua potencialidade.

- Relações entre sistema e entorno: os sistemas em aberto estão em constante processo de intercâmbio com o entorno, além de necessitarem dele para se manter em funcionamento. Essa característica de interdependência com o entorno não possibilita aos sistemas abertos um estado de estabilidade e de permanência estático, sendo necessário incorporar noções de ordem e desordem para explicar a realidade sistêmica como um processo dinâmico.

- Equilíbrio dos sistemas: um sistema aberto é uma unidade dinâmica, que se transforma ao longo do tempo. Para compreender este processo, é necessário que se conheçam quais são os mecanismos internos utilizados pelo sistema para manter seu equilíbrio dinâmico por meio dos constantes intercâmbios de matéria, energia e informação com seu entorno. O conceito de equilíbrio dinâmico incorpora a idéia de mudança: uma mudança temporal que incorpora o conceito de evolução e de mudança espacial, que tem a ver com a idéia de estrutura.

- Retroalimentação: os mecanismos de retroalimentação são aqueles que permitem ao sistema ser realimentado pela informação gerada por ele mesmo. Podem ser de três tipos: Positivas, que são considerados sistemas explosivos, pois os efeitos das causas iniciais aumentam a variação do sistema em relação a seu ponto de equilíbrio; Negativas, em que a informação gerada permite ao sistema alterar-se para restabelecer seu equilíbrio; Regulação Antecipatória; que são informações que atuam de acordo com o comportamento presente do sistema, porém apresenta um sentido futuro.

- A adaptação e inovação: um dos objetivos dos sistemas vivos é manter-se em estado de estabilidade. Para atingir tal objetivo, os sistemas desenvolvem processos de adaptação, que buscam conduzi-lo de novo à estabilidade inicial. Nos sistemas abertos, estes processos são muito importantes para a manutenção da integridade do sistema, devido ao alto grau de interdependência com as alterações de seu entorno. Em alguns casos, quando as alterações são muito intensas, provocam mudanças que podem alterar o próprio sistema. Neste caso há a inovação no sistema.

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