FATORES BIOLÓGICOS DETERMINANTES DE RISCOS DE EXTINÇÃO

Mudanças ambientais, provocadas ou não pela ação do homem, têm impacto na vida selvagem e estão refletidas na extensão da Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas publicada pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês). A listagem com 71.576 nomes de animais, plantas, fungos e microrganismos é a base para a elaboração de políticas de conservação mundo afora.

Extinção em biologia e ecologia é o total desaparecimento de espécies, subespécies ou grupos de espécies. O momento da extinção é geralmente considerado sendo a morte do último indivíduo da espécie. Em espécies com reprodução sexuada, extinção de uma espécie é geralmente inevitável quando há apenas um indivíduo da espécie restando, ou apenas indivíduos de um mesmo sexo. A extinção não é um evento incomum no tempo geológico - espécies são criadas pela especiação e desaparecem pela extinção.

Apesar da grande diversidade biológica que existe, estima-se que cerca de 99% das espécies existentes na Terra já se tenham tornado extintas. Um dos maiores enigmas dos paleontólogos consiste em descobrir e explicar como se processaram os eventos de extinção no passado e quais foram as suas causas.1 As causas das extinções sempre podem ser estudadas por meio da evidência fóssil. A partir dos fósseis, obtêm-se informações sobre organismos que viveram em tempos muito distantes dos atuais, nos levando a entender um pouco mais da diversidade da vida no passado.

Apesar de ser um fato aceito atualmente, a defesa da ocorrência de eventos de extinção durante a história da vida na Terra, recebeu adesão, somente após a aceitação dos estudos de Georges Cuvier. Tal naturalista francês formulou as leis da Anatomia Comparada possibilitando assim, as reconstruções paleontológicas de organismos que somente eram encontrados na forma fóssil e sem correspondentes vivos na atualidade, ou seja, os organismos extintos.3 A extinção é uma questão de escala geográfica. A extinção local é a extinção de uma população em uma determinada região e não necessariamente de toda a espécie. Isso, em biogeografia, é um fator importante no delineamento da distribuição geográfica das espécies. Eventos de vicariância e de mudanças climáticas, por exemplo, podem levar a extinção local de populações e, assim, configurar os padrões de distribuição das espécies.

Atualmente muitos ambientalistas e governos estão preocupados com a extinção de espécies devido à intervenção humana. As causas da extinção incluem poluição, destruição do habitat, e introdução de novos predadores. Espécies ameaçadas são espécies que estão em perigo de extinção. Extintas na natureza é uma expressão usada para espécies que só existem em cativeiro.

Inevitavelmente todas as espécies serão extintas em algum momento de sua vida, já que a extinçãoé a etapa final da história evolutiva de uma espécie (Collen et al. 2006). O problema é que, no presente, a taxa de extinção das espécies está entre 1.000 e 10.000 vezes maior que na maior parte da história geológica. Esta é a mesma taxa de aceleração que caracteriza os cinco episódios de extinção em massa do registro fóssil (May 2010). Durante o século passado, estima- se que a cada ano uma espécie de mamífero ou ave foi extinta (May 2010). Neste período, e também atualmente, a perda de habitat, a exploração humana e a introdução de espécies invasoras foram as maiores responsáveis pelo processo de extinção das espécies (Diamond 1989).

Mas porque algumas espécies estão menos ou mais suscetíveis a estes distúrbios? Já foi observado que o risco de extinção não está distribuído de forma aleatória entre os diversos taxa, mas sim concentrado em alguns grupos (Bennet & Owens 1997, Cardillo & Bromham 2001, Johnson et al.

2002, Jones et al. 2003). Isto sugere que estes grupos compartilham características intrínsecas às espécies que não permitem sua adaptação (seja evolutiva ou comportamental) à velocidade com que essas mudanças ambientais estão acontecendo (Fisher et al. 2003, Cardillo et al. 2004). Embora as ameaças atuais às espécies sejam em sua maioria ligadas a ações antropogênicas, características da biologia e ecologia das mesmas determinam quão bem elas conseguem resistir a estes distúrbios (Cardillo et al. 2004).


Algumas características intrínsecas das espécies foram consideradas importantes para o seu risco de extinção, como: (i) tamanho de corpo, (ii) dieta, (iii) densidade populacional, (iv) nível trófico, (v) uso de habitat, (vi) fecundidade e (vii) tamanho de área de distribuição (ex. Laurence 1991, Gaston & Blackburn 1996, Bennett & Owens 1997, Purvis et al. 2000a,

Algumas hipóteses foram levantadas a respeito da influência destas características sobre o grau de ameaça. Por exemplo, espécies com maior tamanho de corpo possuem, geralmente, maiores áreas de vida, são menos abundantes e têm maior exigência energética, o que as tornariam mais vulneráveis à degradação e à perda de habitat, além de serem alvos fáceis para a exploração humana.

Podemos concluir que os fatores intrínsecos das espécies são muito importantes para nos ajudar a entender como o risco de extinção está distribuído entre os diferentes grupos, sendo que estas características podem diferir de acordo com o táxon, ameaça e a região de interesse. Tamanho de corpo, fecundidade e tamanho da área de distribuição se afirmam como as principais características responsáveis pelo risco de extinção em mamíferos. Apesar disso, o risco de extinção é determinado também pela interação destas características biológicas, fatores ecológicos e distúrbios antrópicos.

O Homem e seu papel na extinção

O homem é um dos maiores agentes causadores de extinções, pela destruição dos ecossistemas naturais que abrigam muitas espécies, e uma pesquisa global de extinções revela que mais de 800 espécies se extinguiram nos últimos 500 anos, uma taxa de extinção de 1000 a 10000 vezes mais alta do que a existente sem a presença dos humanos. O IUCN (World Conservation Union) resumiu a melhor informação sobre o estado de conservação dos animais. Eles posicionam as espécies em categorias de risco por meio de critérios baseados no tamanho absoluto das populações selvagens e em suas modificações nos últimos 10 anos.

Durante as últimas décadas, uma grande erosão da biodiversidade vem sendo observada. A maioria dos biólogos acredita que uma extinção em massa está a caminho. Apesar de divididos a respeito dos números, muitos cientistas acreditam que a taxa de perda de espécies é maior agora do que em qualquer outra época da história da Terra.

Alguns estudos mostram que cerca de 12,5% das espécies de plantas conhecidas estão sob ameaça de extinção. Alguns dizem que cerca de 20% de todas as espécies viventes podem desaparecer em 30 anos. Quase todos dizem que as perdas são decorrentes das actividades humanas, em particular a destruição dos hábitats de plantas e animais.

Alguns justificam a situação não tanto pelo sobreuso das espécies ou pela degradação do ecossistema quanto pela conversão deles em ecossistemas muito padronizados (ex.: monocultura seguida de desmatamento). Antes de 1992, outros mostraram que nenhum direito de propriedade ou nenhuma regulamentação de acesso aos recursos necessariamente leva à diminuição dos processos de degradação, a menos que haja apoio da comunidade.

Entre os dissidentes, alguns argumentam que não há dados suficientes para apoiar a visão de extinção em massa, e dizem que extrapolações abusivas são responsáveis pela destruição global de florestas tropicais, recifes de corais, mangues e outros hábitats ricos. No entanto, esses não encontram base científica sólida para suas alegações, diante da acumulação de evidências sobre o intenso declínio na riqueza biológica do planeta e sobre a destruição ou degradação de inúmeros ecossistemas. Apesar disso, há influentes grupos de pressão econômica e política que alimentam uma ruidosa controvérsia artificial no intuito deliberado de confundir a opinião pública.

A domesticação de animais e plantas em larga escala é um factor histórico de degradação da biodiversidade, gerando a selecção artificial de espécies, onde alguns seres vivos são seleccionados e protegidos pelo homem em detrimento de outros.
No entanto, pesquisadores da Universidade Federal de Goiás (UFG) sustentam que a lista não deve ser o parâmetro único para planejar ações de conservação, pois aspectos ignorados pela IUCN podem colocar em xeque o êxito das medidas. Os pesquisadores brasileiros sustentam que é necessário avaliar a saúde dos ecossistemas em sua totalidade e não tomar isoladamente o risco de extinção de cada espécie.
       
Para fornecer dados mais fidedignos, os pesquisadores da UFG criaram um modelo para quantificar o risco de desaparecimento das espécies. Quase todas as aves do Brasil constam da tabulação feita para o trabalho científico, somando 1.557 espécies.


Os brasileiros foram abrangentes, levaram em conta dados como a influência humana (caça, comércio ilegal, desmatamento), a dieta dos animais (se se alimentam de frutas, folhas, insetos), além do ambiente em que vivem (floresta, ambiente aberto, savana), os hábitos (noturno ou diurno), a quantidade de ovos por ninhada e o tamanho dos bichos, além de 15 outras variáveis.
      
“Aplicando nosso modelo, somos capazes de prever se o animal ou planta têm, por exemplo, 30%, 40% ou 80% de chance de se extinguir em determinado momento. Descobrimos que a maioria dos exemplares de aves mais ameaçados de nosso País não estão sequer em áreas protegidas”, explica o professor Rafael Loyola, coautor, com a doutoranda Nathália Machado, do artigo A Comprehensive Quantitative Assessment of, Bird Extinction Risk in Brazil, publicado na edição de agosto da revista PLoS ONE.
       
A IUCN, por outro lado, aplica somente 12 critérios para definir se uma espécies está em perigo ou não. Tamanho da população, número de indivíduos maduros, taxa de declínio, fragmentação das populações e área de ocorrência são alguns das variáveis usadas. Dessa forma, cada espécie recebe da IUCN uma etiqueta específica – dados insuficientes (DD), pouco preocupante (LC), quase ameaçada (NT), vulnerável (VU), em perigo (EN), criticamente em perigo (CR), extinta na natureza (EW) e extinta (EX).
      
Os pesquisadores esperam que o modelo auxilie em mais um parâmetro, a probabilidade de extinção, capaz de melhorar o planejamento das políticas ambientais.
“O estudo amplia o conhecimento sobre o grau de ameaça das espécies e isso tem um peso político enorme, porque o governo só tem condições de tomar decisões mais eficientes quando conhece o nível de ameaça a uma espécie. Por exemplo, pode-se intensificar a fiscalização a uma região específica ou criar áreas de preservação para impedir a degradação daquele ecossistema”, afirma Loyola.
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