OS ORGANISMOS GENETICAMENTE MODIFICADOS E A SAÚDE HUMANA


As culturas transgênicas são semelhantes às tradicionais?
As agências governamentais que regulam as culturas obtidas pela biotecnologia as consideram “substancialmente equivalentes” às culturas convencionais. Esta conjectura é inexata e carece de base científica. As evidências demonstram que a transferência genética usando técnicas do DNAr é substancialmente diferente dos processos que governam a transferência de genes no melhoramento tradicional. Neste esforço, os melhoristas de plantas desenvolvem novas variedades através do processo de seleção e procuram a expressão do material genético que já está presente dentro de uma espécie. O cruzamento convencional implica no movimento de grupos de genes ligados funcionalmente, principalmente entre cromossomos similares, e inclui os promotores relevantes, seqüências reguladoras e genes associados implicados na expressão coordenada da característica de interesse da planta.

A engenharia genética trabalha principalmente através da inserção de material genético, geralmente de fontes sem procedência, ou seja, de material genético procedente de espécies, famílias e inclusive reinos que anteriormente não podiam ser fontes de material genético para uma espécie em particular. O processo envolve o uso de uma “pistola insere genes” (gene gun) e um “gene promotor” de um vírus e um marcador como parte do pacote ou construção que se insira na célula da planta hospedeira. As atuais tecnologias do DNAr consistem na inserção ao azar de genes na ausência de seqüências normais do promotor e os genes reguladores associados. Como há poucos exemplos de caracteres de plantas nas quais foram identificados os genes reguladores associados, atualmente não é possível introduzir um gene totalmente “funcional” usando as técnicas de DNAr. Estas técnicas também envolvem a inserção simultânea de promotores virais e marcadores seletivos que facilitam a introdução de genes de espécies não compatíveis. Estas transformações genéticas não acontecem quando se usam os métodos tradicionais, o que explica amplamente a forma tão abismal em que estes processos se diferem (Hansen, 1999).

Em resumo, o processo da engenharia genética difere claramente do melhoramento convencional já que o último se baseia sobretudo na seleção através de processos naturais de reprodução sexual ou assexual entre uma espécie ou dentro de gêneros estreitamente relacionados. A engenharia genética usa um processo de inserção de material genético, via um “gene gun” (pistola) ou um transportador bacteriano especial, coisa que não ocorre na natureza. Os biotecnólogos podem inserir material genético em uma espécie a partir de qualquer forma vivente, criando assim organismos novos com os quais não se tem experiência evolutiva.

Não há risco no consumo dos alimentos transgênicos?
O prematuro lançamento comercial dos cultivos transgênicos, devido à pressão comercial e às políticas da FDA e da EPA, que consideram os cultivos geneticamente modificados “substancialmente equivalentes” às culturas convencionais, ocorreu no contexto de um marco regulador aparentemente inadequado, não transparente e, em alguns casos, inexistente. De fato, a aprovação do lançamento comercial dos cultivos transgênicos se baseia na informação científica proporcionada voluntariamente pelas empresas que os produzem.

Se estima que cerca de 50 por cento dos alimentos preparados a base de milho e soja nos Estados Unidos provém do milho e grãos de soja geneticamente modificados. A maior parte dos consumidores desconhece este fato e não tem possibilidade de determinar se um alimento é transgênico, já que não são identificados com etiquetas que o digam. Dado que nenhum cientista pode assegurar que tais alimentos estão completamente livres de riscos, se pode considerar que a maioria da população dos Estados Unidos está sendo sujeita a um experimento de alimentação em grande escala. Os consumidores da União Européia (UE) recusaram os alimentos geneticamente modificados (Lappe e Bailey, 1998).

Devido aos métodos não usuais de produzir culturas GM, alguns temem que as variantes genéticas produzidas possam introduzir substâncias estranhas no fornecimento de alimentos com inesperados efeitos negativos sobre a saúde humana. Uma preocupação importante é que alguma proteína codificada por um gene introduzido possa ser um alergênico e causar reações alérgicas nas populações expostas (Burks e Fuchs, 1995).

A biotecnologia é empregada para introduzir genes em diversas plantas que são fontes de alimentos ou componentes de vários alimentos. Os caracteres que são introduzidos incluem resistência a vírus e a insetos, tolerância aos herbicidas e mudanças na sua composição e no seu conteúdo nutricional. Dada a diversidade de caracteres, é fácil prever o potencial alergênico das proteínas introduzidas nos alimentos procedentes de fontes sem registro de possuir alergênicos, ou que apresentam seqüências de aminoácidos semelhantes às de alergênicos conhecidos presentes em proteínas de amendoim, amêndoas, leite, ovos, soja, mariscos, peixe e trigo.

Existe uma pequena mas real possibilidade de que a engenharia genética possa transferir proteínas novas e não identificadas nos alimentos, provocando assim reações alérgicas em milhões de consumidores sensíveis aos alergênicos, mas sem que haja possibilidade de identificá-los ou de se auto-proteger de tais alimentos danosos.

Outra preocupação está associada com o fato de que em quase todos os cultivos geneticamente modificados se incorporam genes de resistência aos antibióticos como marcadores, para identificar que uma planta foi modificada com êxito. É de se esperar que estes genes e seus produtos enzimáticos, que causam a inativação dos antibióticos, estejam presentes nos alimentos modificados e sejam incorporados por bactérias presentes no estômago humano. Isto enseja importantes perguntas sobre as conseqüências para a saúde humana, particularmente se comprometem a imunidade (Ticciati e Ticciati, 1998).

A manipulação com engenharia genética pode eliminar ou inativar substâncias nutritivas valiosas presentes nos alimentos. Pesquisas recentes demonstram que a soja modificada resistente aos herbicidas tem menores níveis de isoflavonas (de 12 a 14 por cento), fito-estrogêneos chaves (principalmente genistina) que estão presentes de forma natural na soja e que constituem um potencial protetor contra algumas formas de câncer na mulher (Lappe et al., 1998).

Não há cientista que possa negar a possibilidade de que mudando a estrutura genética fundamental de um alimento, estes possam vir a causar novas doenças ou problemas de saúde. Não há estudos de longo prazo que provem a inocuidade dos cultivos geneticamente modificados. Estes produtos não foram testados de forma exaustiva antes de chegar às estantes das lojas. Apesar disto, os cultivos transgênicos estão sendo experimentados nos consumidores.

Fonte: Emater/RS

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