Análise Sobre a Extinção das Espécies

Análise Sobre a Extinção das Espécies

Análise Sobre a Extinção das Espécies
O debate sobre a extinção de espécies foi retomado recentemente em negociações durante a Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas da Fauna e Flora Selvagem (Cites) em Bangcoc, na Tailândia - um tratado cujo objetivo é salvar espécies afetadas pelos efeitos devastadores do comércio.

A destruição do rinoceronte, do elefante, do tigre - a perseguição a essas e outras espécies foi denunciada entre os delegados que participavam do evento. E ao ouvir os protestos, as campanhas e as estatísticas chocantes sobre o que está sendo perdido, muitos podem pensar, erroneamente, que extinções são um mal recente, inventado após a chegada da voraz e descuidada espécie humana.

Desde já, quero declarar que alguns dos mais terríveis exemplos são, sim, resultado de atividades humanas, às vezes por ignorância, outras, por puro descaso.

Lei da Natureza
Mas se observarmos o passado lá atrás, veremos que extinções de espécies vêm ocorrendo na natureza ao longo da história da Terra. A mais famosa extinção em massa no planeta foi a dos dinossauros. E foram identificadas outras quatro grandes extinções - uma delas, resultando no extermínio de quase 90% das espécies.

Mas também existem as chamadas "extinções de fundo" (do inglês background extinctions), em que espécies vão desaparecendo devagar, ao longo dos anos. Silenciosamente, criaturas vão perdendo a batalha para outras até deixarem de existir. Essas perdas podem não ser espetaculares. Na verdade, são rotineiras.

Espécies duram, em média, alguns milhões de anos. Mamíferos se saem pior, sobrevivendo entre um e dois milhões de anos. Moluscos têm desempenho melhor - entre cinco e sete milhões de anos.

Alguns sobreviventes mais robustos - a tartaruga de couro é ótimo exemplo de design duradouro - conseguem sobreviver por dezenas de milhões de anos. Mas a dura verdade é que, no mundo natural, nada é para sempre. Quase todas as formas de vida que existiram no planeta até hoje morreram.

Vale fazermos uma pausa para assimilarmos o significado disso. Cerca de 90% - ou até 99%, segundo algumas estimativas - de todas as espécies marinhas ou terrestres de animais ou plantas que passaram pela Terra esvaneceram-se.

Restos mortais de algumas dessas espécies ficaram fossilizadas e foram parar em prateleiras de museus. Outros desapareceram sem deixar traços.

Vencedores e Perdedores?
O biólogo inglês Charles Darwin escreveu sobre extinções em seu influente livro "A Origem das Espécies", onde o autor expôs a teoria da seleção natural e evolução das espécies. Para Darwin, o surgimento de novas espécies, ganhando terreno sobre outras, mais antigas, é parte do processo de evolução. Ele certamente não chorou a morte dos "perdedores".

Então, na briga para preservar algumas espécies que desfrutam de grande importância simbólica na nossa cultura, não seria talvez válido adotarmos uma atitude mais realista em relação à nossa habilidade de intervir? Não será verdade - por mais desconfortável que isso nos pareça - que não podemos salvar tudo?

Com certeza, as criaturas que têm maior chance de sobreviver são as mais 'fofinhas', aquelas cuja aparência ou charme conquistaram o apoio dos homens. Ninguém vai brigar para salvar uma minhoca.

Por outro lado, será que deveríamos encarar a questão de forma diferente quando as extinções ocorrem por nossa culpa? Ou, pior ainda, se as perdas de espécies estão se acelerando por causa de nós? Por destruirmos habitats, por criarmos poluição ou por matarmos simplesmente todos os membros de uma determinada espécie?

Existe uma longa lista de animais cujo desaparecimento se deve puramente a ações humanas. Encontrei um deles nas Ilhas Galápagos alguns anos atrás. George Solitário, último sobrevivente de uma subespécie de tartarugas gigantes, era uma criatura desajeitada, de olhos tristes - e adorável.

Em sua ilha natal, as plantas de que ele e outros de sua espécie se alimentavam foram aos poucos exterminadas por cabras trazidas por marinheiros. Seus ovos, por sua vez, foram comidos por ratos trazidos nos grandes navios.

As próprias tartarugas costumavam ser levadas para as embarcações como alimento - uma prova de que atitudes em relação ao mundo natural tendem a se transformar com o passar do tempo e também variam de uma região para outra.

Para o morador de um vilarejo pobre na África, matar um elefante para extrair suas presas significa dinheiro fácil. Mas para os chineses, marfim e presas de rinoceronte têm importância cultural e medicinal (mesmo que as supostas propriedades medicinais desses materiais não passem de mito).

Conservacionismo é um conceito relativamente novo. O marfim, por exemplo, foi no passado um importante artigo de comércio para o Império Britânico.

No entanto, ver um carregamento ilegal de marfim apreendido no aeroporto de Bangcoc foi, para mim, uma experiência deprimente. O mau cheiro era intenso. Nas palavras de um oficial da alfândega tailandesa, o marfim 'tinha cheiro de morte'.

Não intencional
Então quais são os argumentos para que lutemos contra a extinção? Um é puramente egoísta: razões econômicas. Por exemplo, se pescarmos o último atum do planeta, milhares de trabalhadores da indústria pesqueira ficarão sem empregos. Igualmente, se cada leão e cada elefante forem mortos, a indústria do turismo vai sofrer. Ou seja, a extinção pode custar caro.

Além disso, é possível que a eliminação de algumas espécies "chave" tenha consequências não intencionais. A perda de uma planta ou animal na cadeia alimentar pode afetar toda uma rede de espécies das quais nós, humanos, dependemos mas ainda não nos demos conta disso.

Na Tailândia, ouvi alegações de que a diminuição no número de tigres pode resultar em um aumento em populações de veados. Isso, por sua vez, resultaria em uma maior destruição na vegetação, afetando pássaros e macacos que vivem nas florestas.

Família
Outro argumento é de natureza moral. Como espécie mais poderosa do planeta, temos o dever de não obliterar outras, especialmente se isso acontece por pura falta de cuidado. Em outras palavras, sentirmos responsabilidade pela sobrevivência de espécies mais fracas seria um indicador de civilização.

Um argumento final, que eu acho poderoso, é que somos a primeira espécie a adquirir o conhecimento de que cada coisa viva tem, em seu âmago, seu DNA. Todos compartilhamos isso. Talvez não gostemos de tudo o que existe - formigas, aranhas, caramujos e cobras - mas somos seus parentes. Em um certo sentido, somos todos da mesma família.

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