PARQUE NACIONAL DA SERRA DO CIPÓ - MG


Localização
A Serra do Cipó se localiza 90 quilômetros a nordeste de Belo Horizonte, logo depois da cidade de Lagoa Santa, na região sul da Cordilheira do Espinhaço, entre os paralelos 19 e 20º S e 43 e 44º W, no divisor de águas das bacias hidrográficas dos rios São Francisco e Doce.

Superfície
71.525 ha.

Cachoeira Grande
Cachoeira da Farofa
Cachoeira Véu da Noiva
Com altitudes que variam de 800 a 1.700 metros, pluviometria anual média de 700 mm e cerca de 300 dias de sol por ano, foi no período pré-cambriano - há cerca de 1,7 bilhão de anos- ocupada pelo oceano, conforme se verifica por suas características geológicas, com a predominância do quartzito formado pela consolidação das areias depositadas no fundo do antigo mar.

Cachoeira do Tomé
Travessão

Após o descobrimento do Brasil, constituiu-se no caminho natural dos bandeirantes que em busca de ouro e pedras preciosas embrenharam pelo nordeste mineiro e chegaram à Vila do Serro Frio e ao Arraial do Tejuco, atuais cidades do Serro e Diamantina.

Ainda existem vestígios de uma estrada de pedra dessa época, construída pelos escravos, partindo do sopé da serra e chegando a um lugar chamado Mãe d’Água, por cima da Cachoeira Véu da Noiva.

Cachoeira do Gavião

A sua importância histórica também se reflete na existência de sítios arqueológicos com vestígios de comunidades primitivas, como se comprova em grutas e cavernas através de desenhos e pinturas rupestres, com idade estimada entre 2 mil e 8 mil anos. Trata-se de região bastante rica em cursos d’água, destacando-se o rio Cipó, afluente do rio das Velhas, pertencente à bacia do rio São Francisco.

Cachoeira do Riachinho
Cachoeira da Capivara
Cachoeira das Andorinhas

O rio Cipó, que é o mais importante curso d’água da região, nasce a partir do encontro dos ribeirões Mascate e Gavião, sendo que o Mascate desce do cânion das Bandeirinhas enquanto o Gavião a serra da Bocaina, ambos no interior do Parque Nacional.

A presença de grande número de riachos e nascentes, ainda pouco afetados por atividades humanas, abre a possibilidade de se utilizar as águas da Serra do Cipó como padrão de referência para ambientes aquáticos de ótima qualidade, equilibrados e com elevada diversidade biológica.

Flores Sempre Vivas

Desde o século passado a Serra do Cipó vem sendo observada com muito interesse por diversos estudiosos. Cientistas famosos como o naturalista francês August de Saint-Hilaire, o botânico alemão Carl Friedrich Phillip von Martius e o naturalista inglês George Gardner ficaram impressionados, por exemplo, com os campos rupestres.

Bromélia

Os brasileiros Ailton Joly e Nanuza Menezes dedicaram boa parte de seus estudos e pesquisas à vegetação local. O paisagista Roberto Burle Marx dizia que começou a entender mais as plantas quando passou a acompanhar o botânico mineiro H. L. Mello Barreto em suas visitas a Serra do Cipó, e sempre que retornava para buscar inspirações dizia-se cada vez mais fascinado.

Segundo os botânicos as 1.600 espécies já catalogadas atualmente não devem representar nem a metade do que deve existir na região, e se tem notícia de que mais de trinta dessas espécies estão sendo objeto de pesquisa em laboratórios do país e do exterior.

Tamanduá-mirim

Na parte baixa da serra predomina a vegetação de cerrado, enquanto na região mais alta são encontrados principalmente os campos rupestres, de elevadíssima diversidade florística e onde alguns cientistas consideram que se concentra uma das mais ricas comunidades vegetais do mundo, inclusive com numerosas plantas endêmicas, ou seja, que só existem lá. Dentre as plantas destaca-se a ocorrência das sempre-vivas (família das Eriocaulaceae) cujas flores secas, pelo fato de não murcharem nem perderem a cor, são muito utilizadas em ornamentação.

Truta brasileira - Crenicichla-lacustris

Bastante freqüentes são as curiosas canelas-de-ema gigantes (Vellozia gigantea), que podem atingir até seis metros de altura e um metro de circunferência na base do tronco. São encontradas também orquídeas de várias espécies, bromélias, margaridas, cactos, ipês e quaresmeiras, além de fascinantes liquens coloridos que brotam sobre as pedras. Enfim, a multiplicidade de espécies vegetais é tão grande que a região encontra-se permanentemente florida durante todas as estações do ano, sendo considerada um verdadeiro laboratório a céu aberto, um paraíso para os botânicos.

A fauna da serra é bastante rica, sendo encontradas dezenas de espécies de mamíferos, anfíbios e aves. Destaca-se a paca, o tatu, o tamanduá-mirim, a jaguatirica, o veado, o macaco, a lontra, o lobo-guará e a capivara. Dentre as aves são vistos com freqüência gaviões, codornas, perdizes, azulões, sabiás, pica-paus, tucanos, pintassilgos e beija-flores.

O beija-flor-de-gravata-verde (Augastes scutatus) e o pássaro Cipó Canesteros, ambos endêmicos da serra, despertam grande interesse em ornitólogos de várias partes do mundo, e vale lembrar que por garantir a reprodução das plantas o beija-flor é essencial para o ciclo de biodiversidade. Quanto aos peixes, além das variedades mais comuns, merece destaque a presença abundante da pirapetinga, conhecida como a truta brasileira. Essa espécie apresenta um elevado nível de exigência ambiental, habitando exclusivamente águas com altos teores de oxigênio dissolvido.

SERRA DO CIPÓ - MG

OBJETIVOS ESPECÍFICOS DA UNIDADE
PROTEGER UMA ÁREA DE EXCEPCIONAL BELEZA CÊNICA, QUE ABRIGA FLORA EXTREMAMENTE RICA EM ESPÉCIES E COM ALTA TAXA DE ENDEMISMO, RICA FAUNA, ONDE SE DESTACAM OS INSETOS E ANFÍBIOS E IMENSA QUANTIDADE DE NASCENTES QUE ALIMENTAM AS BACIAS DOS RIOS SÃO FRANCISCO E DOCE. A MAIOR PARTE DA ÁREA PROTEGE CAMPOS RUPESTRES, MAS HÁ TAMBÉM ÁREAS DE CERRADO, MATAS CILIARES E CAPÕES DE MATA. PELA TOPOGRAFIA ACIDENTADA, FORMAM-SE INÚMERAS CACHOEIRAS QUE ATRAEM GRANDE QUANTIDADE DE VISITANTES ORIUNDOS PRINCIPALMENTE DA GRANDE BELO HORIZONTE, MAS TAMBÉM DE OUTRAS PARTES DO BRASIL E DO MUNDO, SENDO FUNDAMENTAL PARA A PRESERVAÇÃO DESTE PATRIMÔNIO AMBIENTAL, O ORDENAMENTO DA VISITAÇÃO.

ÁREA DA UNIDADE
31.733,00 (ha)

ASPECTOS CULTURAIS E HISTÓRICOS Antecedentes Legais
A OCUPAÇÃO DA REGIÃO INICIOU-SECOM OS BANDEIRANTES, NO SÉCULO XVII, QUE VISAVAM A EXPLORAÇÃO MINERAL. NO SÉCULO XVIII A REGIÃO FOI PERCORRIDA POR GRANDES NATURALISTAS COMO LUND, WARMING, LANGSDORFF, E SAINT-HILAIRE, ENTRE OUTROS , QUE COMEÇARAM A REGISTRAR A IMPRESSIONANTE RIQUEZA DA FLORA, DA FAUNA E DOS SÍTIOS ARQUELÓGICOS, QUE REGISTRAM NÃO SÓ ELEMENTOS EXTINTOS DA FAUNA COMO A PRESENÇA HUMANA REMONTANDO A CERCA DE 10.000 ANOS. NAS DÉCADAS DE 1950-60 INICIAM-SE AS PESQUISAS NAS ÁREAS DE BOTÂNICA E ECOLOGIA VEGETAL IMPLEMENTADAS POR PESQUISADORES BRASILEIROS, QUE ACABARIAM POR EMBASAR A LEI ESTADUAL 6.605, DE 1975, QUE CRIOU O PARQUE NACIONAL DA SERRA DO CIPÓ, POSTERIORMENTE TRANSFORMADO EM PARQUE NACIONAL.

Aspectos Culturais e Históricos
ALÉM DAS PINTURAS RUPESTRES, QUE REGISTRAM A PRESENÇA HUMANA HÁ MILHARES DE ANOS NA REGIÃO, HÁ ASPECTOS CULTURAIS RELEVANTES DE UM PERÍODO MAIS RECENTE. APÓS O CICLO DO OURO E DOS DIAMANTES A REGIÃO DA SERRA DO CIPÓ VIVEU UM PERÍODO DE DECADÊNCIA ECONÔMIC, CARACTERIZADO POR PROPRIEDADES ONDE MUITO POUCO SE PLANTAVA, EM PARTE PELA POBREZA DOS SOLOS, EM PARTE POR UM DESINTERESSE CULTURAL, COMO REGISTRA LANGSDORFF EM SEUS DIÁRIOS, QUANDO DE SUA PASSAGEM PELA REGIÃO EM 1824. HAVIA APENAS UMA PECUÁRIA EXTENSIVAQUE JÁ ENTÃO USAVA PRÁTICAS PREDATÓRIAS, COMO QUEIMADAS SEM QUALQUER CONTROLE, QUE REDUZIRAM DRASTICAMENTE A ÁREA DE MATAS E CERRADÃO E QUE PERSISTIRAM ATÉ OS DIAS DE HOJE, CONSTITUINDO UM DOS PRINCIPAIS PROBLEMAS DO PARQUE. A ÚNICA ATIVIDADE AGRÍCOLA MAIS INTENSA FOI A UTILIZAÇÃO DAS VÁRZEAS INUNDÁVEIS PARA O PLANTIO SOBRETUDO DE ARROZ, ASSOCIADO AO CORTE SELETIVO DE MADEIRA NAS MATAS DE GALERIAS DO RIO CIPÓ, QUE SÓ SE INTERROMPERAM COM A CRIAÇÃO DO PARQUE NOS 1980. HÁ NA REGIÇAO UMA COMUNIDADE DESCEDENTE DE ESCRAVOS, QUE CULTIVAM ELEMENTOS CULTURAIS PRATICAMENTE INALTERADOS, COMO A DANÇA DO "CANDOMBE" QUE É PRATICADA EM BELAS FESTAS QUE REGISTRAM O SINCRETISMO RELIGIOSO DOS AFRO-DESCENDENTES. NOS ANOS 1960-70 INTENSIFICA-SE O PELA REGIÃO PARA FINS TURÍSTICOS. AOPULAÇÃO LOCAL VAI AOS POUCOS MIGRANDO DE ATIVIDADES AGRO-PECUÁRIAS PARA ATIVIDADES DIRETA OU INDIRETAMENTE RELACIONADAS AO TURISMO. ANTES DA CRIAÇÃO DO PARQUE E DA ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL MORRO DA PEDREIRA, QUE O CIRCUNDA (1990), DESTACOU-SE A TIVIDADE DA COLETA DE "SEMPRE-VIVAS", QUE ACABOU TORNANDO-SE UMA AMEAÇA À SOBREVIVÊNCIA DAS ESPÉCIES COM ESTE TIPO DE FLORES, DEVIDO À FORMA DESORDENADA COMO ERA PRATICADA. HOJE UM DOS SÍMBOLOS DA SERRA DO CIPÓ É O JUQUINHA, PERSONAGEM FLOCLÓRICO DA REGIÃO, HOMENAGEADO COM UMA ESTÁTUA À BEIRA DA RODOVIA MG-010, QUE ERA UM COLETOR DE SEMPRE-VIVAS E DE ORQUÍDEAS E BROMÉLIAS. ATUALMENTE A MAIOR PARTE DA POPULAÇÃO LOCAL DEDICA-SE A ATIVIDADES RELACIONADAS DIRETA OU INDIRETAMENTE AO TURISMO, COMO CONDUTORES DE VISITANTES, FUNCIONÁRIOS DE POUSADAS, RESTAURANTES E OUTROS ESTABELECIMENTOS COMERCIAIS, ALUGUEL DE CAVALOS ETC.

ASPECTOS FÍSICOS E BIOLÓGICOS Clima
O clima da Serra do Cipó é do tipo tropical de altitude com verões frescos e estação seca bem definida. As temperaturas médias anuais ficam em torno de 21,2 ºC e apresenta precipitação média anual de 1.622 mm.

Relevo
A área é dividida em dois Geossistemas: Geossistema Montanhoso do Espinhaço (conj. de linhamentos de cristais e superfícies aplainadas entre 1.100 e 1.600 metros) e Geossistema Semi-montanhoso da Bacia Inter-planáltica do Médio Rio Cipó (correspondem aos vales).

Vegetação
A VEGETAÇÃO DA SERRA DO CIPÓ É BASTANTE BEM ESTUDADA. O DESTAQUE SÃO OS CAMPOS RUPESTRES, QUE RECOBREMAS REGIÕES DE MAIOR ALTITUDE (1000 A 1600 M), PRINCIPAIS RESPONSÁVEIS PELA EXCEPCIONAL RIQUEZA DE ESPÉCIES (MAIS DE 1800 ESPÉCIES JÁ DESCRITAS NA REGIÃO) E PELO ELEVADO GRAU DE ENDEMISMO. QUEM PERCORRE O S PLANALTOS DA REGIÃO NO OUTONO E NA PRIMAVERA COSTUMA SE DEPARAR COM VERDADEIROS "JARDINS" SALPICADOS DAS MAIS VARIADAS FORMAS DE FLORES DE TODAS AS CORES. CHAMA A ATENÇÃO A VARIDADE DE ESPÉCIES DENTRO DE ALGUNS GÊNEROS, COMO PAEPALANTHUS, VELLOZIA, CHAMAECRISTA, POR EXEMPLO. EM REGIÕES DE UMIDADE UM POUCO MAIS ELEVADA ENCONTRAM-SE AS MATAS MESÓFILAS (CAPÕES DE MATA). NAS ÁREAS MAIS BAIXAS ENCONTRAM-SE AMOSTRAS DE CERRADO E CERRADÃO. AO LONGO DOS CURSOS D`ÁGUA ESTÃO SEMPRE PRESENTES AS MATAS CILIARES E NOS AFLORAMENTOS DE CAL´CARIO QUE MARGEIAM A SERRA ENCONTRAM-SE AS MATAS SECAS SOBRE CALCÁRIO.

Fauna
A FAUNA DA REGIÃO DA REGIA JÁ FOI BASTANTE PESQUISADA, EMBORA MENOS QUE A FLORA. ENTRE OS MAMÍFEROS HÁ DIVERSAS ESPÉCIES AMEAÇADAS, COMO LOBO-GUARÁ, O VEADO CATINGUEIRO, A ONÇA PARDA E O GATO MARACAJÁ. OUTRAS ESPÉCIES OUTRORA EXISTENTES, NÃO SÃO REGISTRADAS HÁ MUITO TEMPO, PODENDO ESTAR LOCALMENTE EXTINTAS, COMO O TAMANDUÁ BANDEIRA E O CACHORRO DO MATO VINAGRE. A AVIFAUNA DA REGIÃO TEM REGISTRADAS CERCA DE 180 ESPÉCIES. A ÚNICA ENDÊMICA RESTRITA É O"JOÃO CIPÓ" (ASTHENIS LUISAE), HAVENDO TRÊS ESPÉCIES ENDÊMICAS À SERRA DO ESPINHAÇO: "RABE-MOLE-DA-SERRA" (EMBERNAGRA LONGICAUDA), "PAPA-MOSCA-DE-COSTAS-CINZENTAS" (POLYSTICTUS SUPERCILIARES) E BEIJA-FLOR-DE-GRAVATINHA-VERDE (AUGASTES ESCUTATUS). OS GAVIÕES TEMIMORTANTE PAPEL REGULADOR DE POPULAÇÕES DE PEQUENAS AVES E ROEDORES, COM DESTAQUE PARA O "GAVIÃO CARIJÓ" (RUPORNIS MAGNIROSTRIS). ALGUMAS AVES SÃO ENCONTRADAS APENAS EM AMBIENTES AQUÁTICOS, COMO A "LAVADEIRA MASCARADA" (FLUVICOLA NENGETA) E O "MARTIM-PESACADOR-PEQUENO" (CHLOROCELYRE AMERICANA). TAMBÉM SÃO MUITO VISTOS A SERIEMA (CARIAMA CRISTATA), O TUCANO (RAMPHASTUS TOCO), O "SOFREU" E AS MAIRITACAS. OS ANFÍBIOS ESTÃO ENTRE OS GRUPOS COM MAIOR GRAU DE ENDEMISMO, ASSIM COMO OS INSETOS, GRANDE PARTE DOS QUAIS ASSOCIADOS A PLANTAS E AINDA EM GRANDE PARTE DESCONHECIDOS PELA CIÊNCIA.

BENEFÍCIOS DA UNIDADE PARA O ENTORNO E REGIÃO USOS CONFLITANTES QUE AFETAM A UNIDADE E SEU ENTORNO
UM PROBLEMA ANTIGO QUE PERSISTE E QUE TALVEZ REPRESENTE O MAIOR IMPACTO SOBRE O PARQUE É A PRESENÇA ILEGAL DE GADO EM SEU INTERIOR. ALÉM DO PIOTEIO DA VEGETAÇÃO E DE MARGENS DE CÓRREGOS, OS PECUARISTAS USAM O FOGO PARA RENOVAR AS "PASTAGENS", INCLUSIVE DENTRO PARQUE, TENDO SIDO RESPONSÁVEIS PELA MAIORIA DOS INCÊNDIOS FLORESTAIS REGISTRADOS EM 2003. OUTRO PROBLEMA AINDA SEM SOLUÇÃO É A VISITAÇÃO DESORDENADA, INCLUINDO CAMINHADAS E CALVAGADAS NÃO AUTORIZADAS, QUE VÊM SENDO REPRIMIDAS NA MEDIDA DO POSSÍVEL. NO ENTORNO DO PARQUE, A VISITAÇÃO ECXESSIVA DE ALGUNS ATRATIVOS, SOBRETUDO BEIRA DE RIO E CACHOEIRAS, A ESPECULAÇÃO IMOBILIÁRIA E PRÁTICAS INADEQUADAS, COMO O USO DE MOTOCICLETAS E JIPES SOBRE A VEGETAÇÃO DE CAMPO RUPESTRE SÃO PROBLEMAS GRAVES, CAUSANDO EROSÃO E ASSOREAMENTO DE CÓRREGOS. O DESMATAMENTO É UM PROBLEMA GRAVE PRINCIPALMENTE NA REGIÃO DE MORRO DE PILAR E AINDA SE ENCONTRAM EVENTUALMENTE PONTOS DE EXTRAÇÃO IRREGULARDE PEDRAS PARA CONSTRUÇÃO E CRISTAIS.

Vestígios do passado persistem na paisagem rochosa deste parque onde as flores inspiram e fascinam viajantes. A cordilheira do Espinhaço é majestosa, está presente em boa parte de Minas e corta a paisagem do parque. Suas formações refletem o grande movimento de placas que ocorreu na região onde rochas pontiagudas permaneceram inclinadas todas na mesma direção, como se estivessem reverenciando os deuses responsáveis por estas transformações. Visando proteger esta grande cadeia montanhosa que funciona como uma espinha dorsal do centro do Estado e abriga centenas de nascentes, foi criado em novembro de 1984 o Parque Nacional da Serra do Cipó.O parque ocupa uma área de 33.800 ha, recheados de belas cachoeiras, lagoas e cânions, além disto, é considerado por estudiosos como um dos lugares com o maior número de plantas por metro quadrado do planeta. Já são mais de 1500 espécies catalogadas, entre elas a admirada sempre-viva, presente em boa parte dos campos rupestres e que por pouco não foi extinta devido à retirada indiscriminada por moradores antigos.

A história da ocupação desta região é bem antiga, há vários sítios arqueológicos, pinturas rupestres encontradas em grutas, muitos indícios de que comunidades primitivas viveram nesta área em tempos remotos. Muitos anos à frente deste período, a Serra da Vacaria, nome dado pelos Bandeirantes e que depois passou a se chamar Serra do Cipó, se transformou numa importante rota por onde passavam todo ouro e diamante encontrado em várias localidades mineiras. Atualmente, a `Estrada Real`, trecho compreendido entre Diamantina (Minas Gerais) e Paraty (Rio de Janeiro), tornou-se um grande foco turístico e vem atraindo milhares de aventureiros que vem para a região em busca da história e também de ecoturismo.

Voltando a paisagem do parque, toda aridez da serra parece contestar a vivacidade das flores, mas botânicos afirmam que algumas espécies como as canelas-de-ema, crescem entre os aglomerados rochosos aproveitando a água que cai do orvalho da noite. Estas plantas utilizam a matéria orgânica acumulada no caule e sobrevivem com pequenas porções de água armazenadas entre as folhas secas caídas. A definição de cerrado, com árvores tortuosas espalhadas, folhas resistentes, nesta região perde espaço para os campos rupestres, com uma vegetação rasteira composta por gramíneas e plantas de porte arbustivo.

A estrutura desta extensa faixa montanhosa são quartzitos, rochas formadas a partir da areia do fundo do mar, lembrando que aqui como em várias outras regiões, já foi um grande oceano. A disposição dessas rochas nas encostas das montanhas fez da Serra do Cipó uma paisagem peculiar e inesquecível. O parque conta com uma boa estrutura para receber visitantes e diferente de vários outros parques onde a presença de animais domésticos é expressamente proibida, no Cipó é possível alugar um cavalo e conhecer a Cachoeira da Farofa, a queda mais visitada da unidade. O nome farofa, ao contrário do que muitos pensam, se refere à água que cai do alto e se esfarela nas rochas que cercam um belo poço.

Para quem gosta de longas caminhadas o bom mesmo é visitar a Cachoeira da Farofa e o Cânion das Bandeirinhas, o percurso todo é de 16 km (ida e volta), mas se prepare para o mergulho na Farofa, a temperatura da água é congelante. No Cânion das Bandeirinhas, um desfiladeiro de 80 metros recortado pelo Rio Mascate, é envolvido por milhares de pedras que despencaram do alto e agora fazem parte deste cenário memorável.

Alguns atrativos do parque são mais complicados de se chegar, entre eles o Travessão, uma caminhada de cerca de 3 horas com boas subidas, é bom ir acompanhado de um guia. O Travessão é um grande vale localizado no alto da Serra do Espinhaço, de proporções imponentes e o vale funciona como divisor de duas grandes bacias hidrográficas de Minas, a do Rio Doce e a do Rio São Francisco. O Vale do Travessão também era o único local onde os viajantes podiam atravessar de uma serra para outra levando toda tralha que envolvia as grandes empreitadas dos Bandeirantes.

Na volta do Travessão, conheça a estátua construída em homenagem ao Juquinha, um antigo e carismático morador da serra, que costumava colher flores nos campos e presentear visitantes. Se você quiser conhecer uma figura ainda mais surpreendente, siga até a cidade de Morro do Pilar, depois pela estrada para Itambé e no meio do caminho, no lado esquerdo uma lapa esconde um personagem. Uma espécie de ermitão que abdicou de tudo e foi viver sozinho numa lapa (gruta).

Um passeio imperdível para os mais aventureiros é pegar uma canoa canadense e navegar pelo Rio Cipó. As águas calmas do rio e toda vegetação da margem são emolduradas pela grande Serra do Espinhaço. Depois de poucos quilômetros rio acima é possível observar capivaras descansando e se alimentando nas margens do rio. O mais interessante é que elas são tranqüilas e já acostumaram com a presença humana no rio, portanto remando devagar e sem muito barulho é possível chegar a poucos metros dos bichos sem afugentá-los. Alguns problemas rondam o interior do parque, entre eles a regularização fundiária da área, um problema que afeta grande parte dos parques brasileiros e além disto à proximidade de um grande centro urbano como Belo Horizonte aumenta a pressão de moradores.

Em relação ao plano de manejo da unidade, os próprios funcionários do parque estão à frente da execução do plano, ao contrário de outros parques que contratam empresas especializadas no serviço. Para João Madeira, analista ambiental que está coordenando os trabalhos, muitos dos planos de manejo elaborados da forma como eram antes dos concursos do Ibama foram caros e não atenderam às necessidades das unidades. Madeira ainda ressalta que `realizar o trabalho internamente é uma tentativa de aproveitar uma mão de obra de que antes não se dispunha e que agora existe e tem como obrigação planejar as ações de conservação e manejo das unidades de conservação sob a gestão do IBAMA`. Na minha opinião, esta é uma iniciativa questionável, pois o trabalho interno dos funcionários do parque não pode ser colocado de lado para a execução do plano de manejo.
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